No Cemitério da Ressurreição

15 de julho de 2022
Autor: Juiz Elmar Carvalho

Cheguei cedo, ontem, ao Cemitério da Ressurreição, já que o horário do sepultamento do Dr. José Ramos Dias da Silva Filho fora adiado para as 17:30 horas. Assim, fui dar uma olhada no jazigo que adquiri décadas atrás, e felizmente ainda não “inaugurado”. Como não o localizasse de plano, fiquei olhando as lápides de túmulos, que julguei ficassem no seu entorno. Tendo essa busca resultado infrutífera, fui à administração para receber a sua localização precisa. Um prestativo funcionário me levou ao jazigo.

Como tudo estivesse em ordem, inclusive a pequena lápide de identificação, me dediquei a verificar quais eram os meus “vizinhos”. Mais uma vez constatei que o sepulcro contíguo da direita pertencia ao saudoso amigo Maury Mauá de Queiroz, de sonoro nome, quase musical. Ele possuía um estabelecimento comercial, no cruzamento da Rua Olavo Bilac com a 24 de Janeiro, na realidade um bar conhecido como o Bar do Repórter.

Entre outros jornalistas, era seu cliente o apresentar de TV Luís Carlos Maranhão, que se tornou piauiense por se ter radicado em Teresina. Nesse bar bebi algumas vezes, em minha juventude, com o notável poeta Jamerson Lemos, pernambucano, mas que também se radicara em nossa capital.

Ao ver atentamente a lápide de seu túmulo, me recordei desse tempo feliz de minha juventude. Nela constava que Maury nascera em 01/01/1938 e falecera em 12/02/2005. Portanto, falecera com 67 anos de idade. Havia a seguinte citação de Santo Agostinho, numa versão um pouco diferente e ampliada: “Uma lágrima se evapora, uma flor murcha, só a oração chega ao trono de Deus.”

Ao ler o pedido de oração e ao me lembrar que certa vez o amigo que se chamou Maury Mauá de Queiroz se preocupou comigo fiz breve oração, em que pedi por sua salvação. O fato singelo foi o seguinte: após tomar umas poucas talagadas de cuba libre, numa época em que não havia lei seca, e ainda no vigor e entusiasmo de minha juventude, fui embora em minha motocicleta. Mal cheguei a minha residência, o telefone fixo tocou. Era o poeta Jamerson que ligava, por insistência do Maury, que desejava saber se eu chegara bem. Foi com essa comovente lembrança, que fiz minha oração.

Na cerimônia antecedente ao enterro, o Alberto, em seu conciso pronunciamento, disse com muita ênfase e firmeza, que seu irmão, o Juiz de Direito José Ramos Dias da Silva Filho, tinha como principal qualidade ser um homem bom, que procurava não prejudicar quem quer que fosse. Creio não existir melhor virtude que a bondade. Nas eloquentes palavras do já citado Agostinho, bispo de Hipona, padre da Igreja, verificamos que “o amor é a beleza da alma”. Diria que quem tem amor é bom, e quem é bom é porque tem amor.

O Alberto poderia ter desfiado os títulos de José Ramos, os cargos que exercera, as comarcas de que fora titular; que ele descendia dos desembargadores Augusto Ewerton e Silva e Fernando Lopes e Silva Sobrinho, e era irmão do Des. Fernando Lopes e Silva Neto, atual corregedor-geral da Justiça. Mas preferiu se referir às virtudes que lhe ornavam a alma, entre as quais primava a bondade.

Ao ouvir suas palavras não pude deixar de me lembrar do episódio em que um forasteiro presenciou um sepultamento em cidade interiorana. Ante a notável quantidade de pessoas presentes ao campo santo, ele perguntou a um homem que chorava copiosamente se o morto era um homem muito importante, ao que o interpelado teria respondido, entre soluços: “Não sei se ele era importante. Sei que era um homem bom.”

Da mesma forma direi, corroborando as palavras de seu irmão: José Ramos era um homem bom. E agora está numa das moradas do Senhor. 

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