A saudade e a morte de Ribamar

19 de dezembro de 2022
Autor: Juiz Elmar Carvalho

Fui ao cemitério Recanto da Saudade, para participar da cerimônia de sepultamento do juiz de Direito José Ribamar Oliveira Silva (19/03/1961 – 15/12/2022).

Sem desejar fazer trocadilho com o nome do campo santo, mas Ribamar deixou saudade. Senti isso na tristeza e mesmo no choro de vários de seus amigos e familiares, que lá se encontravam e participaram da cerimônia religiosa e do sepultamento propriamente dito.

Antes da chegada do cortejo, conversei com o amigo Raimundo Nonato de Carvalho Teixeira, servidor aposentado da Caixa Econômica Federal e professor de Química, no ensino médio. Nonato é amigo de infância do Ribamar; revelou-me que ambos eram “irmãos de leite”, pois um tomou do leite vertido pela mãe do outro, reciprocamente. Esse leite materno parece ter reforçado e consolidado a amizade, porquanto se mantiveram amigos durante todos esses longos anos.

Disse-me o Nonato que o Ribamar tinha uma inteligência prodigiosa, uma vez que aprendia com extrema facilidade, sem necessidade de longas e exaustivas horas de estudo. Passou em importantes concursos. Aprendeu inglês como autodidata, ou por conta própria, sem auxílio de professor.

Ao assumir seu cargo de juiz, permaneceu do jeito que sempre fora, sempre humilde e sem empáfia. Seu comportamento e atitudes perante seus velhos amigos permaneceu inalterável, sem nenhum tipo de presunção.

Conheci Ribamar quando assumi a Comarca de Ribeiro Gonçalves, como seu titular, no ano 2000. Nessa época o ônibus da empresa Princesa do Sul tinha sua agência defronte ao Fórum de Uruçuí, cujo juiz era o José Ribamar Oliveira Silva.

No retorno a Teresina, vindo de Ribeiro Gonçalves, demorava cerca de duas horas nessa agência, para prosseguir na viagem. Então, algumas vezes, fui ao fórum onde sempre recebi uma afetiva acolhida do Ribamar, sempre bem-humorado e risonho. Aliás, o seu filho Rodrigo, conversando com um amigo, perto de onde eu me encontrava, ressaltou essa sua característica.

A Samantha, filha do Ribamar, pranteou muito a sua morte, tendo chegado a sofrer um desmaio perto da cova, mas felizmente foi bem amparada e reconfortada por suas parentas e amigas.

No final, quando me dirigia a meu carro, encontrei na alameda, sob a sombra densa de uma copada mangueira, o advogado Antonio Liborio Sancho Martins, que dirigia palavras de conforto e resignação à Samantha. Parei perto, pois pretendia entregar um livro de minha autoria ao velho amigo Liborio, que estava sem chapéu, não sei por que mistério, mas talvez em respeito à solenidade da morte e a esse tipo de cerimônia.

Quando o nobre causídico encerrou suas palavras, eu disse à filha do Ribamar: “Seu pai já está, neste momento, num lugar muito melhor do que este nosso”. E creio mesmo isso seja verdade, porque acredito nas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando ele disse, de forma peremptória, que na casa de seu pai havia muitas moradas.

No caminho até meu carro, o Dr. Liborio me contou que o Ribamar dizia não temer a morte. Creio que ele teve uma morte rápida, sem muito ou nenhum sofrimento, e sem temor. E isso é uma grande graça, que poucos alcançam.

Ribamar e Samantha
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